quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SÉTIMO DIA: A Unidade de Saúde

No sétimo dia, a ACS viajou e não pôde nos acompanhar na atividade de campo, então, acordamos com a Dra. Patrícia que iríamos conhecer um pouco do funcionamento do posto, assim como o seu quadro de funcionários.
Primeiramente nos dirigimos à Farmácia e conversamos com a Tamires, responsável do setor. Ela nos relatou que exerce o cargo há 5 meses mas não teve qualquer treinamento para desempenhar essa função, prestou concurso de auxiliar administrativo e pensava que iria trabalhar na própria FMS, não em uma Unidade tendo que lidar diariamente com medicamentos. Ela contou que assim que começou quase entra em depressão com medo de errar o medicamento e prejudicar a saúde de algum paciente, mas hoje já se sente mais segura.
Com relação aos medicamentos em si, ela elencou como os que mais saem da farmácia: medicação para controle da hipertensão, para vermes, para controle da diabetes e para a suplementação da gestante como Ácido fólico e Sulfato Ferroso. Para os pacientes crônicos, as receitas são válidas por 3 meses, após esse período nova consulta deve ser realizada.
Quanto aos problemas que tem que enfrentar todos os dias, Tamires citou inúmeros em poucos minutos. A principal queixa foi a falta de medicamentos em si.
"A coisa que eu mais digo aqui é NÃO, não tem."
Além disso, ela relatou que os medicamentos chegam da farmácia da Fundação em caixas grandes, apenas as cartelas, sem "saquinhos" ou "caixinhas" e que considera ruim os entregar de qualquer jeito ao usuário.
Foi notório também o calor que fazia dentro da salinha aonde ficam não só a funcionária como caixas e caixas de medicamentos ainda para serem organizados. Isso se deve à ausência de um ar-condicionado assim como de um depósito na própria Unidade.
Por fim, Tamires explicou que tanto o material odontológico como o da sala de vacinação vão diretamente para esses setores, mas que no caso de ausência de algum item os outros profissionais costumam pegá-los lá.



Depois disso, fomos até o SAME e conversamos com várias funcionárias, dentre elas, uma das mais falantes foi a Kátia. Ela relatou que o SAME é responsável pelo arquivamento, pela marcação de atendimentos a serem realizados no próprio posto e pelos encaminhamentos através do Sistema Online, vigente há 3 anos. Antes dessa informatização, os encaminhamentos eram realizados através de cotas de consultas e exames para cada unidade ou pelo telefone, o que resultava em uma enorme dificuldade para os funcionários. O que mais marcou no discurso de todas as funcionárias do setor foi a veemência com a qual afirmavam que há uma enorme desigualdade entre a oferta de atendimentos e a demanda da população que procura o posto.

Consultas para especialistas como Ortopedistas, Neurologistas e Cirurgiões são disponíveis apenas nos Hospitais de Referência que atendem não só todos os encaminhamentos da Rede de Atenção Básica da cidade de Teresina como também de outras cidades e estados. Dona Kátia falou que isso deriva também do fato dos médicos da atenção básica "apenas encaminharem, encaminharem e encaminharem", deixando o SAME sobrecarregado.

"A Fundação quer é que crie fila de madrugada."

Com relação aos pacientes que chegam pela primeira vez ao posto, ela explicou que eles precisam ter o cartão do Sistema Único de Saúde, assim como preencher o prontuário que fica arquivado na unidade. Grande parte desses pacientes recém-chegados reclama bastante dos ACSs, que não visitam as casas ou não os cadastram.

Sobre a equipe de Saúde Bucal, a principal queixa foi a respeito de uma equipe que fica descoberta. Das 5 equipes da Unidade (114, 152, 115, 117 e 132), a 152 não tem cirurgião-dentista responsável e os pacientes dessa microárea específica é atendida no Hospital Getúlio Vargas.

Depois disso, conversamos rapidamente com a enfermeira responsável pelo Bolsa Família na Unidade do Cristo Rei. Perguntamos de forma direta a ela se considera que o Bolsa Família ajudou quanto à saúde da população ou se essa é uma ideia erroneamente difundida com interesses políticos. Segundo ela, o Bolsa Família contribui para a manutenção da população num conceito errado de Saúde: a de fazer a avaliação das crianças apenas para não perder o benefício financeiro e isso não é benéfico.

Todas as "entrevistas" trouxeram muita informação sobre o que a Atenção Básica representa na prática para o usuário e o profissional do SUS.

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