Antes de
iniciar a atividade ficou certo de nos encontrarmos no posto de saúde, para
juntos nos organizarmos e seguirmos para Residência Terapêutica. Logo cedo uma surpresa
inesperada: o professor Gilberto resolveu aparecer para saber como estávamos e
também dar uma fiscalizada no nosso desempenho ao longo do período.
A chegada à residência não foi das mais fáceis. Nos dividimos em
carros e tentamos chegar lá sem saber ao certo o caminho, mas conseguimos.
Assim que chegamos encontramos o prof. Otacílio e com ele entramos na
residência. A primeira impressão foi a melhor: lugar limpo, organizado,
agradável e com moradores doces e acolhedores. Não vamos ser hipócritas a ponto
de negar um certo receio antes da realização da atividade – a maioria das
pessoas associa a imagem do indivíduo com transtorno mental a alguém agressivo
e amedrontador -, mas nos primeiros minutos já ficou notório que estávamos
completamente enganados. Uma das moradoras, L., nos recebeu com abraços e
palavras carinhosas, assim como as outras moradoras R. e T..
O responsável pela residência, Helielson, também foi muito solícito,
nos apresentando a casa, falando sobre como a mesma funciona, sobre as funções
que os moradores desempenham e da assistência que recebem do CAPS e do governo
municipal. Ao longo da manhã, as três moradoras apresentaram disposição e
entusiasmo em participar da roda de conversa que se formou na varanda. Entre
outras coisas, elas relataram suas vivências antes da internação e também sobre
o dia a dia na residência. Chamou a atenção do grupo as histórias de L., que
sofreu abuso sexual do pai e chegou a residência com fortes indícios de maus
tratos, incluindo perda quase completa da visão devido a catarata, e que após
receber suporte médico e psiquiátrico já se apresentava muito bem fisicamente e
até mesmo com certo nível de lucidez e muito comunicativa. Dona R., também
causou emoção ao relatar que possuía uma vida tipicamente normal – era enfermeira,
casada e avó -, mas que desenvolveu esse distúrbio psíquico “subitamente”.
Ao longo da conversa, o professor Otacílio, juntamente com a doutora
Patrícia e o responsável Helielson, nos explicaram o que de fato é uma
residência terapêutica e de como ela funciona, sobre o tipo de pacientes que
eles acolhem – pessoas com transtornos mentais e em condições de
vulnerabilidade, abandonados pelas famílias. O bate-papo se tornou, então, uma
aula sobre a política de desmanicomização que vem sido adotada na saúde pública
nas últimas décadas.
“a desmanicomização não implica deixar os
pacientes soltos nas ruas, ou sob responsabilidade exclusiva da família. Ao
contrário, pressupõe a criação de diversos instrumentos, serviços e
acompanhamento (todos de caráter público) do paciente e, muitas vezes até mesmo
de atendimento da família.”
BRASIL DE
FATO
Edição 300
24.11.2008
A atividade teve continuidade com a ajuda dos meninos do 8º período e
9º período. Enquanto Sudário tocava violão e cantava para animar o ambiente,
Fernando, Nayllanne, Marina e Fernanda davam dicas de saúde bucal às moradoras,
ensinando-as a escovar corretamente com a ajuda dos macromodelos. Em seguida,
Raí e Patrick começaram a organizar o espaço com tapetes, objetos decorativos e
som, tudo para a preparação para o grande desfile. Isso mesmo, maquiadas e penteadas com o auxílio das alunas do 4º e 8º período, chega a hora das
três moradoras mostrarem toda a beleza, charme e desenvoltura na passarela ao
som de Show das Poderosas. O clima de festa e animação no ambiente foi
registrado em fotos e vídeos, tudo com o devido cuidado para não expor as
pacientes, que exibiram um invejável entusiasmo, chegando, inclusive, a
convidar os alunos para dançar forró.
Mas como tudo que é bom dura pouco, eis que chega o momento de partir.
Igualmente a recepção, a despedida contou com o carinho de todos da residência.
O saldo final foi o de uma manhã iluminada que proporcionou a todos uma lição
de vida que os livros e as aulas não proporcionam, uma lição de que toda pessoa
é acima de tudo um ser humano com uma história de vida única e que não só
merece como precisa do nosso respeito e atenção, sobretudo aqueles que possuem
determinadas deficiências e transtornos.
Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. (Carl Jung)
Adorei o relato de vocês sobre nossa atividade educativa. Realmente sempre existe um receio quando se pensa em trabalhar com pacientes especiais, mas esse dia, de cara, vimos que eles são mais que receptivos.
ResponderExcluirGostei do blog, vou ver se depois leio as outras postagens haha ;*
Nossa, esse dia foi, sem dúvidas, um dos melhores dias do período! Lidar com pacientes psiquiátricos é sempre um desafio, no entanto todo receio cai por terra quando nos deparamos com pessoas amorosas, carismáticas e cheias de vida! Foi um prazer enorme dividir esse momento com vocês, pessoas competentes, engajadas e que são acima de qualquer coisa seres humanos, que fizeram de uma "simples" atividade educativa um momento de grandiosa alegria, comemoração e felicidade para todos que ali estiveram presentes! Me sinto lisonjeado em ter feito parte e ter colaborado com um pouco de entretenimento a essas pessoas mais que especiais!!! Parabéns pela postagem e pelo blog, meus amigos! Tenho certeza que essa experiência será guardada num local especial das nossas mentes e mais tarde quando sentirmos saudade veremos que tudo valeu muito a pena! Beijos!!! :D
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